segunda-feira, 29 de abril de 2013

Tony Ramos: como os vinhos, fica melhor a cada ano


Tony Ramos: como os vinhos, fica melhor a cada ano

por Anna Ramalho
anna-ramalho-jornalista


Há tempos que acalento a ideia de escrever, aqui nessas minhas crônicas semanais, sobre artistas que admiro. Uma forma de homenageá-los, recordar seus belos momentos, e escapar de escrever sobre as mezinhas desse país que sempre parece não ter jeito.  É  melhor falar do que deu certo, elogiar quem merece.
Começo com o Tony Ramos, que hoje pode ser visto em nada menos que três novelas simultâneas. Ele é o advogado Álvaro Peixoto, em “ Felicidade” (1991), uma adaptação de Manoel Carlos sobre a obra de Aníbal Machado; ele é o playboy quatrocentão Edu de Albuquerque Figueiroa, em “ Rainha da Sucata” (1990), de Sílvio de Abreu; do mesmo Sílvio, ele é Otávio de Alcântara Rodrigues e Silva II, o Bimbinho,  e Domingos Plácido de Alencar Castro, o Dominguinhos, em “Guerra dos Sexos” (2013).
Nessas novelas que mencionei, são 23 anos de Tony no ar. Ele já está há mais de 40. Em cada papel, a sua marca única. O playboy Edu não tem traço do advogado Álvaro, embora ficcionalmente estivessem no mesmo patamar social.  O Edu é uma mistura do bem e do mal; o Álvaro chega a ser chato na sua finura, na decência, no amor careta que devota à sempre remota Helena de Maitê Proença. É claro que o Bimbinho é outra história em outra idade.  Tony aos 40. Tony depois dos 60. Nada que não me faça admirar ainda mais este moço que todas as mães querem como filho e todas as mulheres almejam como marido, que o diga a Lidiane, sua eterna companheira. Não vi “Guerra dos Sexos”  com a atenção com que assisti a outros trabalhos seus, mas as cenas em que ele se revelou um palhaço se exibindo no picadeiro para crianças pobres foram antológicas. Chaplinianas, porque depois da graça veio o drama – e ele passou de um a outro com aquele talento discreto, quase envergonhado, que é a sua marca registrada.
Ele já foi jagunço em “Grande Sertão: Veredas”, em memorável atuação como Riobaldo, brilhou como ex-presidiário em “Torre de Babel”, já foi grego em “Belíssima” e português em “O primo Basílio”, o inesquecível indiano Opash em “Caminho das Indias”, o italiano Totó, que comoveu o Brasil em “Passione”,  já viveu gêmeos quando o videotape mal engatinhava, já fez o diabo a quatro na televisão.  O que mais me encantou foi o livreiro que encarnou em “ Laços de Família” (2000), Miguel Soriano,  apaixonado pela personagem da Vera Fischer, que o esnobava,  mas um Giannechinni e dezenas de capítulos depois, acaba no maior happy end com ele.  Foi uma interpretação tão minuciosa, tão sensível,  tão delicada, que até hoje eu procuro um Miguel pra mim.
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Não conheço o Tony  pessoalmente, coisa que muito lamento. Mas pressinto a sua generosidade, o carinho com os colegas, a atenção com os fãs. Nesses tempos de assédio compulsório, quando quem não posa pro telefone do outro corre o risco de apanhar, tenho certeza  de que  se submete ao mico vezes sem conta.  Ano passado, cruzei com ele numa noite de autógrafos da Glória Pires, sua amiga e companheira de cena nos antológicos “Se eu fosse você 1 e 2”.  Duas estrelas de primeira grandeza, o shopping botava gente pelo ladrão, e o Tony lá estava com sua Lidiane, na fila aturando os chatos, numa boa, como se toda aquela confusão – que ele poderia dispensar com apenas um telefonema de desculpas para a colega ( que entenderia perfeitamente, garanto) – fosse só mais um papel a desempenhar, apenas com excesso de figuração.
Adoro e respeito Tony Ramos. É sempre um prazer vê-lo representar – na TV, no teatro, no cinema. Tenho fé de que ainda hei de dizer-lhe isso cara a cara. A fé, a gente sabe e o Gil canta, não costuma falhar.
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Mudando ligeiramente o rumo da prosa porque tento, mas não aguento ficar quieta.
Ponto facultativo deveria ser abolido em toda a Nação. Secretário de Saúde -  que não apenas enforca o trabalho como divide o cadafalso e estende a corda a médicos de UPAs  - deveria ser demitido sumariamente.  O prefeito pede desculpas. É pouco. Uma coisa dessas desmoraliza completamente uma administração e desrespeita os milhões de eleitores que votaram em Eduardo Paes.
Em tempo:  já que o “New York Times” preferiu dar coluna ao Lula ( quem será o ghost writer?), na próxima encarnação não quero mais saber de jornalismo. O que mais desejo é voltar garçom do Senado.  Servir cafezinho e ganhar R$ 15 mil é tudo o que eu quero.  Vou trabalhar o astral e os mestres  quando tiver feito a passagem, podem crer.
Este país não é bolinho, não. Enquanto vemos na televisão os anúncios que mostram as benesses do governo de Dona Dilma , a presidente, na maior, jura que não está em campanha. Essa quantidade de anúncios mais a alegre farândola Brasil afora são o que, cara pálida?

Anna Ramalho é colunista do Jornal do Brasil, criadora e editora do sitewww.annaramalho.com.br e cronista sempre que pode.

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